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Tabosa: Mosteiro, Silêncio e Luz.

Mosteiro fundado nos finais do século XVII, em terras da então freguesia de Caria, berço antigo de povos e de vestígios da presença milenar. Mosteiro pelo local ermo escolhido, situado em plena serra da Lapa, em terras beirãs não muito distantes do Douro.

O sítio de Tabosa, então quase deserto, de clima inóspito e duro, apenas amenizado pela fartura de águas e por isso de terras e lameiros férteis, tornavam-no um local propício ao recolhimento e reflexão para Monjas Cistercienses que professavam a orientação da reforma das Recoletas Descalças, desenhada por Santa Teresa de Ávila e por S. Pedro de Alcântara.

 

A Luz, esteve desde logo presente pela devoção a Nossa Senhora dessa invocação, com um claro elemento de ligação à dedicação de cunho medieval de Nossa Senhora das Candeias. A Nossa Senhora da Luz era assim dedicada a capela que fora erigida algumas dezenas de anos antes na “Quinta da Luz”, que serviu de berço ao Mosteiro. A quinta, isolada propriedade da sua fundadora, estava situada em zona soalheira virada a sul na freguesia de Caria, hoje pertencente ao concelho de Sernancelhe, freguesia do Carregal, a dois passos do Santuário da Lapa. A capela, erigida na quinta em sua devoção em 1632, foi mais tarde transladada no essencial dos seus elementos para o “Altar da Fundadora” da Igreja do Mosteiro, construída nos terrenos da própria quinta, e que se tornou no primeiro e mais importante elemento do que pretendia ser o Mosteiro a ser fundado, como veio a acontecer poucos anos depois.

Silêncio e o som que dele brota, é o terceiro e último elemento, indissociável dos outros dois, como que a marcar a ponte entre a fertilidade das terras, a abundância das suas águas com a espiritualidade necessária ao alheamento dos bens terrenos.

Silêncio sempre ali presente no correr de águas tanto de curso natural como canalizadas por levadas e sistemas hidráulicos; silêncio dos arvoredos e dos pequenos bosques circundantes, com as leves aragens que por eles perpassam ou os fortes ventos de tempos mais agrestes. O som dos rebanhos, seus cães e pastores, tornaram um local isolado mais bucólico, mas feito de uma terra mãe fértil de vida.

 

A procura do isolamento, da solidão, que se encontra sempre na escolha dos locais com solos férteis e águas abundantes onde ao longo dos tempos se construíram mosteiros, é assim o primeiro elemento-chave para a compreensão de Tabosa e do seu Mosteiro, fundado por D. Maria Rebelo Pereira em 1692, rica fidalga beirã, mercê do seu empenho, obstinação e devoção.

 

Luz é, pois, o segundo elemento, fundamental na compreensão daquele que se tornou mais um centro de recolhimento, de procura de caminhos interiores, da luz necessária para os descobrir, construir, e guiar através deles.