A aldeia da Tabosa, a “terra dos fálgaros”, esse enigmático manjar conventual que ali teve princípio na cozinha pobre de um mosteiro antigo, foi sempre aldeia mediana em casario e os seus habitantes permaneceram até hoje fregueses da paróquia vizinha, o Carregal, que integra o concelho de Sernancelhe desde que por lei foi extinto, em 24 de Outubro de 1855, o concelho de Caria a que antes pertencera.
Aquilino Ribeiro trouxe desse manjar o sabor da infância e de tal deixa registo, o único que permanece em letras de oiro, desse distanciado tempo das primeiras avós que herdaram do mosteiro quase só a sombra da igreja como casa de oração, a mítica sedução de uma ruina da arquitectura monacal, as legendas recontadas de mouras e franceses e o saber-fazer desse manjar de nome estranho – os fálgaros. E as filhas destas mulheres guardam hoje a herança das avós, devotadas como as últimas monjas, já velhinhas, sentam-se à boca de um forno e esperam, virtuosas e pacientes, o milagre que em breve pousará sobre a toalha de linho da mesa onde se oferece, como se cada dia fora Páscoa, até a irmão pobre que passe e bata à porta. Alberto Correia “Fálgaro, um Manjar Conventual”
Ângela trouxe mais um charão atestado com fálgaros da Tabosa, cavacas das recolhidas de Freixinho, bolos da Teixeira e um pão-de-ló – doçaria que perpetuava in saecula saeculorum a gulosa memória de três conventos vizinhos.